Nas últimas semanas, o Congresso Nacional intensificou uma série de movimentos que buscam restringir ou reverter decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Projetos de lei, Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e discursos inflamados por parte de parlamentares revelam um cenário de tensão crescente entre os Poderes, alimentado tanto por divergências jurídicas quanto por disputas políticas que extrapolam o regimento.
A raiz do embate está na percepção, por parte de setores do Legislativo, de que o STF estaria ultrapassando seu papel constitucional ao interferir em temas sensíveis como descriminalização de drogas, demarcações de terras indígenas, direito ao aborto e liberdade de expressão em redes sociais. Para muitos congressistas, decisões monocráticas e julgamentos de impacto nacional, sem consulta prévia ao Parlamento, ferem o princípio da representatividade democrática.
Em resposta, o Congresso tem articulado projetos que visam limitar o alcance de decisões do Supremo. Um exemplo é a proposta que exige aprovação do Legislativo para que decisões com efeitos amplos entrem em vigor. Outro movimento relevante é a tentativa de reduzir o poder de ministros em decisões individuais, obrigando que todas as ações de impacto nacional sejam julgadas por maioria no plenário da Corte.
Essas propostas têm encontrado apoio entre diversos partidos — da direita à centro-esquerda —, o que revela que o desconforto com o protagonismo do Judiciário não é exclusivo de um campo ideológico. No entanto, juristas e especialistas em Direito Constitucional alertam para os riscos de interferência política sobre a autonomia do Judiciário. A separação entre os Poderes é uma das bases do Estado Democrático de Direito, e mexer nesse equilíbrio pode gerar efeitos duradouros e perigosos.
Para além das disputas institucionais, há também uma clara leitura estratégica: parlamentares visam agradar suas bases eleitorais em ano pré-eleitoral, marcando posição contra pautas progressistas que ganharam espaço no STF. Ao judicializar temas morais e sociais, o Supremo se expõe ao desgaste público, o que facilita o discurso de que estaria legislando em lugar do Congresso — narrativa que encontra eco entre parte da população.
O Brasil assiste, assim, a uma disputa delicada, que coloca em xeque não apenas decisões pontuais, mas a arquitetura democrática como um todo. A pergunta que permanece no ar é se o embate entre Congresso e Supremo resultará em um novo pacto institucional ou em mais um capítulo de instabilidade política num país que ainda busca consolidar suas instituições.