A Europa vive um momento de tensão política silenciosa, mas profunda. Em diversos países, partidos ultranacionalistas e de extrema direita vêm conquistando espaço — não mais como forças marginais, mas como protagonistas do debate público e, em alguns casos, como integrantes ou líderes de governos. O fenômeno, que se repete em nações como França, Itália, Hungria, Alemanha e Suécia, tem provocado debates acalorados sobre os rumos da democracia no continente.
O discurso desses grupos costuma girar em torno de temas como segurança, imigração, soberania e identidade cultural. Ao mesmo tempo em que rejeitam o globalismo e criticam instituições como a União Europeia, também se colocam como defensores do “cidadão comum” contra o que chamam de elites progressistas. Em tempos de incerteza econômica, crise migratória e instabilidade internacional, essa retórica tem encontrado solo fértil entre eleitores que se sentem esquecidos pelo centro político tradicional.
Parte da força desses movimentos está na comunicação direta com a população, muitas vezes contornando a imprensa tradicional. Plataformas digitais como YouTube, Telegram e TikTok se tornaram vitrines para discursos radicais, memes provocativos e uma linguagem que mistura indignação com humor ácido. A estética do “anti-sistema” tornou-se tão sedutora quanto perigosa — principalmente quando associada a desinformação e ataques à ordem institucional.
Ao mesmo tempo, cresce o temor de que esse avanço represente mais do que um protesto eleitoral. O apoio a líderes que flertam com autoritarismo, revisionismo histórico e negacionismo científico levanta alertas sobre a fragilidade das democracias europeias. Em muitos casos, instituições são colocadas à prova: cortes constitucionais, sistemas eleitorais, liberdades civis e imprensa livre tornam-se alvos preferenciais de campanhas de deslegitimação.
No entanto, é preciso reconhecer que esse movimento não acontece no vácuo. Há um cansaço real com promessas não cumpridas, uma sensação de perda de controle sobre a própria cultura e uma desconfiança crescente em relação à política tradicional. Ignorar essas angústias ou classificá-las apenas como fruto de ignorância é um erro que apenas alimenta o ressentimento. O desafio das democracias liberais não é apenas resistir, mas oferecer respostas convincentes a questões que afetam a vida real das pessoas.
O avanço do ultranacionalismo na Europa não é, por si só, um sinal do fim da democracia. Mas é, sem dúvida, um alerta. Um lembrete de que a liberdade, a pluralidade e o debate público precisam ser constantemente defendidos — não apenas com discursos institucionais, mas com políticas eficazes, comunicação honesta e coragem para enfrentar os medos do presente sem perder os valores do passado.