A tão aguardada reforma tributária finalmente saiu do papel e já começa a redesenhar a forma como o Brasil arrecada e distribui seus tributos. Após décadas de discussões, o novo modelo propõe a simplificação de impostos sobre o consumo, a redistribuição das alíquotas entre setores e uma tentativa de tornar o sistema mais progressivo. Mas, para o brasileiro que vive de salário, a pergunta mais comum é direta: afinal, o que muda no meu dia a dia?
A resposta começa pela criação do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que substitui tributos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. A promessa é de menos burocracia, mais transparência e, com o tempo, preços mais previsíveis. Para o consumidor, isso pode significar menor incidência de “tributação invisível” — aquele valor embutido nos produtos e serviços, que hoje chega a representar até 50% do preço final de itens básicos.
Contudo, a transição trará desafios. Nos primeiros anos, pode haver aumento em determinados serviços, como educação privada, planos de saúde e profissionais autônomos, já que a alíquota unificada tende a ser mais alta nesses segmentos. Isso impacta diretamente a classe média, que hoje consome esse tipo de serviço como alternativa à rede pública. Por outro lado, alimentos, medicamentos e produtos essenciais devem ter alíquotas reduzidas, o que favorece os estratos mais pobres da população.
Outra mudança importante é a promessa de que a nova estrutura será mais progressiva. Isso significa que quem ganha mais tende a pagar mais, e quem ganha menos, menos. Mas essa ideia, por enquanto, se aplica mais ao consumo do que à renda. A taxação sobre salários segue com pouca mudança, e tributos sobre grandes fortunas e lucros e dividendos — embora debatidos — ainda enfrentam resistência no Congresso.
Para o trabalhador assalariado, a reforma ainda não representa uma revolução imediata. Não há, por exemplo, previsão de alteração significativa nas alíquotas do Imposto de Renda para pessoas físicas. Contudo, com o tempo, espera-se que a eficiência no sistema gere ganhos indiretos, como redução de preços e maior competitividade da economia, o que pode abrir espaço para mais empregos e renda.
O que se espera agora é que os próximos passos da reforma avancem sobre outros pontos sensíveis, como a desoneração da folha de pagamento e a revisão de privilégios fiscais de setores específicos. Sem isso, a sensação de injustiça tributária — onde o pobre paga proporcionalmente mais do que o rico — continuará a alimentar o descrédito no sistema.