A recente mega-operação realizada no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, desencadeou mais do que confrontos nas ruas — gerou também tensões na atuação política e no campo dos direitos humanos. A ação, com participação de cerca de 2.500 agentes policiais e resultado de mais de 100 detidos e mais de 120 mortos segundo estimativas, reacendeu um debate difícil sobre segurança pública, poder estatal e as liberdades civis.
Para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), a operação acendeu alertas de violações de direitos humanos. O partido levou ao Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da ação chamada ADPF 635, indícios de “execuções extrajudiciais” e “tortura” no âmbito da operação.
Entretanto, entre as organizações não governamentais que historicamente colaboravam com o movimento jurídico e social da ADPF 635, o choque veio quando o PSB trocou a equipe de advogados que o representavam sem consulta prévia e aprovou novos defensores — movimento classificado por 17 entidades como “severo ataque à defesa dos direitos humanos”.
As ONGs afirmam que o racha representa não apenas uma disputa institucional ou jurídica, mas uma mudança simbólica na postura política: “nenhuma disputa partidária ou cálculo eleitoral pode se sobrepor à defesa da vida, da verdade e da justiça”, dizem em nota. Para elas, a substituição da equipe e os novos rumos da ação indicam um recuo do PSB no compromisso com as comunidades mais vulneráveis.
Do outro lado, fontes próximas ao partido interpretam a mudança como uma tentativa de calibrar o discurso de segurança à realidade das urnas: pesquisas mostram apoio elevado da população do Rio de Janeiro às operações de polícia contra o crime organizado. Assim, o PSB estaria reposicionando sua atuação para evitar desgaste eleitoral.
O desentendimento revive questões centrais: como equilibrar a proteção dos direitos humanos com a necessidade de ação eficaz contra organizações criminosas? E até que ponto alianças entre partidos, movimentos sociais e ONGs são sustentáveis quando o foco se amplia para eleições, poder e estratégia? A cena fluminense expõe esse dilema — e sinaliza que, no tabuleiro da segurança pública e dos direitos civis, nem todos os parceiros permanecem juntos.






