Apesar dos indicadores de estabilidade fiscal e do crescimento tímido do PIB, a economia brasileira ainda sente o peso de uma trava antiga: os juros elevados. Com a taxa Selic em patamares historicamente altos até meados de 2024, os efeitos seguem sendo sentidos no bolso da população e nas decisões de investimento das empresas. O cenário é de consumo desaquecido, crédito seletivo e um freio constante no ritmo da retomada econômica.
Para o consumidor comum, o impacto é direto. Cartões de crédito, empréstimos pessoais, financiamentos e crediários seguem com juros que, em muitos casos, superam os 300% ao ano. Com isso, famílias endividadas, que já enfrentam aumento do custo de vida em itens como alimentação, energia e transporte, adiam compras, cortam gastos e restringem planos de médio prazo. O comércio, por sua vez, sente a desaceleração no movimento e nas vendas parceladas — historicamente um dos motores do consumo no país.
O setor produtivo também sofre. Micro e pequenas empresas, que respondem por grande parte dos empregos no Brasil, enfrentam dificuldades para acessar crédito com taxas viáveis. Muitas acabam recorrendo a alternativas informais ou operam no limite do capital de giro. Isso significa menos investimento, menos contratação e menos inovação. O risco de um ciclo de estagnação se torna real quando o custo do dinheiro é mais alto que a expectativa de retorno.
O Banco Central, por sua vez, enfrenta um dilema clássico: manter os juros altos para controlar a inflação — ainda pressionada por fatores globais e pela incerteza fiscal interna — ou ceder ao apelo por crescimento, flexibilizando a política monetária. A comunicação da autoridade monetária tem sido cautelosa, sinalizando cortes graduais e condicionados, mas sem abrir mão do compromisso com a estabilidade de preços.
No plano político, a pressão aumenta. Parlamentares, setores da indústria e parte do governo federal vêm criticando a lentidão da queda dos juros, alegando que o controle da inflação já não justificaria níveis tão altos da Selic. Há quem veja na política monetária uma resistência a uma agenda de desenvolvimento mais ousada — uma tensão que reabre o debate sobre o papel do Banco Central autônomo em um país ainda marcado por desigualdades profundas.
No fim das contas, o Brasil segue em busca de um ponto de equilíbrio delicado: estimular o crescimento sem provocar um novo surto inflacionário. Enquanto esse ajuste não acontece, o consumidor continua freando seus planos, o empreendedor segurando seus investimentos, e o país, apesar de promissor em potencial, avançando a passos curtos em um terreno ainda instável.