Nos bastidores da política internacional, um novo fator começa a preocupar economistas e diplomatas: a possibilidade de condenação de Jair Bolsonaro pode provocar efeitos colaterais que ultrapassam os limites do Judiciário brasileiro. Nos Estados Unidos, crescem os sinais de que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pode abrir caminho para sanções mais duras contra o Brasil — com reflexos diretos na economia e na reputação do país no cenário global.
Desde o início de 2024, o governo norte-americano vem ampliando o uso de mecanismos como a Lei Magnitsky, que permite sanções contra pessoas ou entidades envolvidas em corrupção ou violações de direitos humanos. Embora tradicionalmente voltada a regimes autoritários, a lei tem sido aplicada de forma cada vez mais estratégica — e nomes do alto escalão brasileiro, ligados à gestão anterior, já aparecem no radar de Washington.
O setor econômico observa com cautela. Dados recentes apontam que as exportações brasileiras para os EUA sofreram retração após o endurecimento tarifário promovido pela Casa Branca. A possível ampliação de medidas punitivas, em caso de condenação de Bolsonaro, poderia atingir setores-chave como agronegócio, metalurgia e tecnologia. Além disso, bancos e empresas com operações no exterior podem enfrentar novos obstáculos, inclusive com impacto sobre o crédito.
Embora ainda haja margem para diplomacia, especialistas apontam que o momento exige atenção redobrada. “As decisões judiciais internas têm peso geopolítico. Mesmo que o Brasil não seja o alvo direto de uma ação formal, a percepção de instabilidade institucional já afeta o ambiente de negócios e o fluxo de investimentos”, explica um consultor internacional ouvido pela reportagem. A leitura de que o país estaria se afastando de padrões democráticos agrava esse cenário.
O governo brasileiro, por sua vez, adota uma postura de prudência. Fontes do Itamaraty indicam que há articulação para mitigar qualquer repercussão diplomática negativa, reforçando compromissos com a transparência e a estabilidade jurídica. A estratégia inclui diálogo com embaixadas, atuação junto a organismos multilaterais e monitoramento constante dos desdobramentos no Congresso e no STF.
Em meio à tensão, o Brasil se vê diante de uma encruzilhada: preservar a soberania das instituições democráticas enquanto protege sua economia de choques externos. A eventual condenação do ex-presidente, mais do que um capítulo político, pode se tornar um teste para a maturidade institucional do país — e um reflexo direto de como o mundo observa nossa democracia em tempos de mudança.