Os efeitos da pandemia da COVID-19 foram devastadores em muitas frentes, mas nenhum outro indicador social foi tão diretamente afetado quanto a desigualdade. O Brasil, que havia registrado tímidos avanços na distribuição de renda ao longo da última década, voltou a enfrentar um cenário preocupante: concentração de riqueza, aumento da pobreza extrema e acesso desigual a serviços básicos, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país.
Embora programas emergenciais como o Auxílio Brasil e o novo Bolsa Família tenham evitado um colapso social imediato, os dados mostram que os níveis de desigualdade retornaram aos patamares anteriores a 2015. A pandemia aprofundou lacunas já existentes, e seus efeitos persistem: desemprego estrutural, informalidade elevada e queda do rendimento médio das famílias ainda são marcas visíveis da crise sanitária que se tornou também uma crise econômica e social.
As mulheres, os negros e os jovens foram os mais impactados. Estudos recentes revelam que esses grupos enfrentam maior dificuldade de reinserção no mercado de trabalho formal, além de estarem mais expostos a empregos precários e mal remunerados. A exclusão digital — que impede o acesso à educação de qualidade, à qualificação profissional e até a serviços públicos — também se revelou um fator agravante, criando uma espécie de “novo analfabetismo” social.
No campo da educação, os efeitos são ainda mais graves e silenciosos. A evasão escolar aumentou, especialmente entre adolescentes de famílias de baixa renda. Muitos não conseguiram acompanhar o ensino remoto e, mesmo com o retorno às aulas presenciais, enfrentam defasagens severas de aprendizagem. A desigualdade educacional compromete o futuro do país, alimentando um ciclo de exclusão difícil de romper.
O desafio agora é mais profundo do que recuperar números: é reconstruir pontes. Governos, setor privado e sociedade civil precisam atuar de forma coordenada para retomar uma agenda de inclusão que vá além dos repasses financeiros. A criação de empregos formais, o fortalecimento da educação pública, a ampliação do acesso à tecnologia e o incentivo ao empreendedorismo periférico são caminhos possíveis — mas exigem vontade política e continuidade.
Se nada for feito de forma estrutural, o Brasil corre o risco de naturalizar a desigualdade como parte permanente do seu tecido social. Mais do que estatísticas, trata-se de vidas reais — e de um futuro coletivo que, sem inclusão, será sempre pela metade.